19 de maio de 2012

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho. 
Cada momento mudei. 
Continuamente me estranho. 
Nunca me vi nem acabei. 
De tanto ser, só tenho alma. 
Quem tem alma não tem calma. 
Quem vê é só o que vê, 
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo 
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem; 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo 
Como páginas, meu ser. 
O que segue não prevendo, 
O que passou a esquecer. 
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Pensamentos

"Eu acredito na experiência do estranho. Acredito em passar por coisas que sabemos que serão desagradáveis. Acredito em jogar-se por becos escuros e tatear o caminho seguro ainda que os olhos não vejam a princípio. Junto do advento da luz elétrica, veio uma iminente cegueira falsa e o homem esqueceu de ver que pode enxergar no escuro, como um morcego. Não fosse por isso, não chegaria até aqui. Mas alguém apagou a luz do que fazemos de feio, de humano. Alguém apagou a luz do que a gente não deveria ver. Mas a arte, e agora a internet, nos recordaram de uma herança celular: já fomos tudo, nascemos da água, de oceanos escuros. Não há nada que não possa ser visto por olhos humanos."
http://rioetc.com.br/cronicas-cariocas/deserto-de-lixo-a-beira-mar/